O Encontro Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, ocorrido em maio de 2020, trouxe novidades para o tratamento de diversos tumores. O maior congresso mundial de oncologia foi virtual e reuniu 40 mil especialistas para discutir novos avanços na prevenção, diagnóstico e terapias contra o câncer.
Câncer de Próstata
O Brasil se destacou na edição deste ano: médicos do Instituto Vencer o Câncer apresentaram uma pesquisa que avaliou um tratamento hormonal que não diminui a testosterona nos pacientes com câncer de próstata metastático.
Com a utilização de medicamentos inibidores de sinalização de andrógenos (apalutamida e abiraterona) os médicos brasileiros constataram a alta eficácia do tratamento, com um perfil de segurança favorável e efeitos colaterais menores.
Ainda para o câncer de próstata, dois estudos promissores. O primeiro avaliou em 200 pacientes o uso de uma nova droga inteligente, que liga uma molécula de radioterapia a uma proteína de membrana presente na célula prostática. Quando a droga une-se à célula tumoral, a radiação é liberada de forma intensa no tumor. A análise comparativa desse medicamento versus quimioterapia mostrou que esse tratamento dobrou as chances de resposta do PSA e reduziu o risco de progressão da doença em quase 40% a mais dos pacientes.
O outro estudo, com 936 pacientes, avaliou novo papel da hormonioterapia oral para diminuir testosterona. O resultado demonstrou que o medicamento oral consegue diminuir a testosterona (que alimenta esse tumor) de forma mais impactante que as injeções, além de reduzir o risco de complicações cardiovasculares mais de 60% comparado com as injeções.
O aspecto negativo é que esse medicamento ainda não está disponível em nenhum país, mas deve em breve ser submetido para aprovação.
Câncer de Bexiga
Referente ao câncer de bexiga, o Congresso revelou um estudo com pacientes em estágio avançado, com doença metastática. Participaram 700 pacientes tratados com quimioterapia e aqueles que tiveram resposta ou pelo menos controle da doença. O grupo que recebeu imunoterapia teve resultados muito bons.
Câncer de Mama
Com relação ao câncer de mama, a atualização de um estudo avaliou o papel das assinaturas genéticas – genes avaliados na célula cancerosa – para verificar se é possível evitar uso de quimioterapia em uma mulher que já operou. O estudo foi inconclusivo, cabendo ao médico discutir com suas pacientes as opções.
Outro importante estudo sobre sequência de remédios na doença avançada, com um novo medicamento aprovado no Brasil para câncer de mama, para quem tem alteração no gene PIK three CA, que ocorre em 40% dos casos desses tumores.
Pacientes que recebem outro grupo de remédios, chamados inibidores de CDK4/6, quando usados na primeira linha com anti-hormônio, aumentam a sobrevida das pacientes em casos de câncer de mama avançado com essa mutação.
Em outro estudo, com um medicamento que inibe uma enzima especial em quem tem tumor com alteração genética de nascença; o remédio, aprovado para pacientes com mutação BRCA1/2, que desenvolvem câncer de mama, também demonstrou ser eficiente em pacientes que não têm esse defeito genético do nascimento, porém a célula cancerosa apresenta essa mutação genética. Funcionou muito bem nesses casos e também em pessoas que nascem com o PALB2.
Câncer de Pulmão
Sobre o câncer de pulmão, um conceito bastante desenvolvido é o da medicina personalizada. Hoje se entende esse tumor não como uma doença única, mas várias. Cada tumor tem um defeito em suas moléculas, que faz com que se torne mais ou menos agressivo. Se identificar esse tipo de alteração em cada paciente, podem ser usadas medicações que atuarão especificamente em cada uma dessas alterações com uma eficácia muito grande. Isso é chamado de terapia-alvo, a personalização do tratamento.
Outra importante novidade em câncer de pulmão é com relação à imunoterapia, que aumenta o sistema de defesa do organismo: verificou-se a eficácia na combinação de duas imunoterapias diferentes em conjunto com a quimioterapia. Essas estratégias estão sendo refinadas e suas combinações podem levar ao controle da doença por anos; o câncer de pulmão passa a ser uma doença crônica como diabetes ou pressão alta. Esse tratamento está cada vez mais avançado e aumenta as chances até mesmo de cura em uma porcentagem dos pacientes.
Câncer de Ovário
Um estudo sobre o câncer de ovário avaliou, em pacientes com recidiva da doença, o papel importantíssimo de uma nova cirurgia (além da quimioterapia) aumentar a chance de sobrevida das pacientes.
Em outra pesquisa, feita somente em mulheres com mutação BRCA1 e 2 (responsável por 20% dos tumores de ovário) se utilizou um inibidor de PARP (responsável por evitar que o tumor reconstitua seu DNA quando está sendo atacado): para o grupo em que a doença voltou, após novo tratamento com quimioterapia, essa droga conseguiu manter a doença controlável em boa parte das pacientes, em comparação com o placebo.
Um terceiro estudo sobre câncer de ovário trouxe uma droga com ação de cavalo de tróia, que se liga a um receptor da célula do tumor, liberando dentro dela uma substância bastante tóxica que atua como inibidor, evitando que a célula tumoral se prolifere. A droga proveu resposta de até 64% em pacientes cujas chances de respostas para medicações normais eram abaixo de 10%.
Câncer de Intestino
Sobre câncer de intestino, um trabalho foi realizado com pacientes que têm instabilidade de microssatélite – defeito que faz com que o organismo reconheça de forma errada a célula maligna – presente em 4% a 5% dos pacientes. O estudo considerou a resposta inflamatória que essa alteração provoca e utiliza imunoterapia ao invés de quimioterapia. O resultado indicou que a imunoterapia foi melhor que a quimio nesses casos, com demora maior para o retorno do tumor e maior chance de resposta. Esse tratamento não invalida o uso de quimioterapia subsequente, se porventura o paciente não responder.
O uso de terapia-alvo em câncer de intestino foi objeto de um estudo com pacientes com mutação BRAF dentro da célula tumoral, que cria um cenário menos responsivo aos tratamentos. Acompanhamentos mais longos demonstraram que para tumores BRAF com falha de uma linha de tratamento prévio o bloqueio com drogas-alvo específicas, associadas ou não a uma terceira droga, era melhor do que o tratamento padrão de quimioterapia. Pode ser uma alternativa mais efetiva e com menos efeitos colaterais.
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ADAPTADO DE
Boas perspectivas para tumores, apresentadas na ASCO 2020. Por Viviane Pereira e Fernanda d’Avila. Publicado em 26/06/2020. Revisado em 28/07/2020.Disponível em https://vencerocancer.org.br/cancer/noticias/boas-perspectivas-para-tumores-apresentadas-na-asco-2020/,